Ao completar um ano sobre a morte da Professora Graça Leite prestamos uma pequena, mas sentida homenagem, à Mulher, Filha, Professora e Amiga com quem tivemos o prazer de privar.
É imperioso agradecer-lhe os mundos abertos a cada criança que, ao longo dos anos acompanhou, acarinhou, mimou, cuidou, tratou como sendo sua...
Obrigada pelo exemplo deixado em cada um de nós! Obrigada pela humanidade que brotava do seu olhar! Obrigada pelo brilho dos seus caracóis que emitiam uma luz de dentro para fora e que atingia todos os que consigo lidavam.
Ninguém é insubstituível, mas uns fazem-nos mais falta do que outros e atrevemo-nos a dizer:
"Fazes-nos (tanta) falta!"
Deixamos aqui um texto escrito pela Professora Graça Leite e um poema de Fernando Pessoa "A morte é a curva da estrada" onde um dia todos nos encontraremos....
Castelos, Duendes, Fadas Encantadas, são prodigalidades da imaginação e encontram-se frequentemente na bibliografia infantil. Esta por sua vez, destina-se a fazer sonhar as criancinhas e a incutir-lhes a moral maniqueísta. Porém, a realidade, quando despida das suas vestes cor-de-rosa, mostra-se muito menos encantada e onírica. Os que parecem maus, às vezes são os melhores e os aparentemente melhores revelam-se maus. Se os sonhos possíveis não são por isso mesmo sonhos, os sonhos impossíveis são inalcançáveis. Não preconizo sonos, maravilhas, castelos ou quimeras. Acredito na simplicidade, na dignidade, no trabalho, sendo isto não vulgarmente simples, o Mundo esforça-se por demonstrar-me que persigo uma utopia.
Não me chamo Raimundo para endireitar o mundo. Chamo-me Graça Reis, mas não quero fazer leis. Adorava que as pessoas pudessem contentar-se com as pequenas coisas simples que me encantam e, encantarem-se com aquilo que realizam com o seu esforço. Não quero os castelos, os duendes ou fadas encantadas e, no entanto, parece que vivo num mundo de fantasia. Só tenho pena que muito poucos gostem de brincar nele comigo.
7 de Agosto de 1995
Graça Maria dos Reis e Silva Leite
A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.
[23-05-1932]
Fernando Pessoa